Desejo X Culpa
Descubra como tomar decisões certas para que o sentimento não destrua a sua vidaVocê já viveu alguma dessas situações: estava com tanta vontade de comprar uma bolsa só que já havia entrado no cheque especial e ficaria ainda mais endividada se a adquirisse; já comeu o suficiente, mas estava com muita vontade de experimentar uma sobremesa e não sabia se resistiria; é casado e a funcionária nova, que não parava de olhar para você, o chamou para tomar algo depois do trabalho e você achou que, se fosse rapidinho, não teria problema?
Ao ceder a esses desejos você pode ter grandes problemas: ficar endividado por gastar demais, engordar e abrir espaço para a infidelidade. Poderíamos citar uma extensa lista de vontades que ao serem saciadas terão como resultado a culpa. E ela costuma trazer consequências dolorosas que podem durar anos ou a vida inteira.
Foi o que aconteceu com Vilma dos Santos Gregate, de 54 anos, que cedeu ao apelo sexual e acabou traindo o marido com o melhor amigo dele. O problema é que ela não pensou que realizar esse anseio poderia trazer tantos efeitos negativos para ela, o casamento e a família. “Ele era bom pai, mas muito ausente como marido. Não tínhamos diálogo, nem momentos de intimidade. Sei que parte disso era culpa minha, pois eu era muito nervosa, sempre gritava, além de gostar de sair à noite, mesmo sendo casada.” Vilma conta que o envolvimento com o melhor amigo do marido começou em uma festa e ela continuou se encontrando com o rapaz. “Ficamos juntos dois anos. Meu marido, desconfiado, um dia me colocou contra a parede e me fez revelar a traição. Ele me perdoou e tentou uma reconciliação, mas eu não quis e nos separamos. Minhas filhas chegaram a passar fome, fiquei com depressão, me sentia muito culpada. Foram três anos de autoacusação, me martirizava por tudo de ruim que tinha acontecido com a minha família”, diz.
Como essa situação pode mudar?
Depois de ver o ex-marido com outras mulheres, Vilma decidiu fazer algo para voltar com ele. Assistindo à programação da Universal na TV, ela encontrou uma esperança e a solução para acabar com toda culpa que sentia. “Estávamos separados, quando passei a frequentar as reuniões na Universal e passei a agir diferente. Quando ele vinha ver minhas filhas, não me mostrava tão nervosa, oferecia algo para ele beber e era paciente. No começo, ele ainda tentava me humilhar, dizendo que tinha outras mulheres, mas eu não reagia mais com agressões. Com isso, ele foi percebendo a mudança e, passado algum tempo, nós voltamos. Após três meses, ele também passou a frequentar a Universal. Aos poucos, foi mudando e hoje é o melhor marido para mim”, comemora.
É melhor lutar contra o desejo do que conviver com a culpa
É importante que fique claro que qualquer que seja a vontade existente dentro do ser humano, principalmente com inclinações erradas, ela passa. Já o peso de ter feito algo ruim e não poder desfazer, fica. E o pior: estará sempre presente para acusá-lo Mas é possível vencer os desejos prejudiciais? Segundo Alexandre Rivero, psicólogo clínico, sim. “Analise a situação, pondere os prós e os contras. Não basta fazer o que tem desejo agora e se desproteger no futuro. A razão possibilita a você pensar nas consequências”, diz. O especialista diz que o poder de tomar a decisão certa ou errada está nas mãos da pessoa. “Nós, seres humanos, somos suscetíveis a sentir desejo. Contudo, aceitá-lo ou recusá-lo faz parte do discernimento de cada um”, orienta.
A maturidade também é necessária para que as escolhas não tragam prejuízos. Noely Montes Moraes, psicoterapeuta e professora da Faculdade de Psicologia da PUC/SP, fala sobre o tema. “A maturidade de uma pessoa se mede pela sua capacidade de escolher atender ou sacrificar. O desejo sempre estará presente, mas temos a capacidade inata de avaliar as consequências de nossos atos”, analisa.
Se você fez algo que não deveria e está se sentindo culpado, não adianta ficar remoendo a situação. É preciso vencer essa dor. Rivero orienta como fazer para recomeçar: “O arrependimento é a possibilidade de ousar construir uma nova maneira de pensar. Se estou arrependido, é importante rever minha maneira de olhar a situação e modificar meu agir, em vez de permanecer numa autopunição, que não levará a nada.”
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